confissões de uma alma perdida

"A palavra, que terá passado do etrusco para o latim, funda-se em vates, cujo significado era o de adivinho ou profeta (na sua evolução semântica veio dar vate, sinónimo de poeta) e em vaticinium, predição, oráculo. Os romanos não tinham deuses antropomórficos próprios. Cultuavam os poderes sobrenaturais a que não faziam corresponder quaisquer formas humanas. O Vaticano era uma das colinas de Roma, situada entre Mário e Janículo, na margem direita do rio Tibre. Nela existiam vários oráculos, os Vaticinia. O mais concorrido ficou conhecido como o "oráculo do monte Vaticano", mais tarde designado Vaticanus deus, o deus Vaticano que proferia previsões e era o protector dos primeiros sons vocail, da fala, por assim dizer, dos recém-nascidos (curiosamente, diz-se que o cristianismo é a "Palavra revelada"). A região foi ocupada por vinhas e vilas de nobres, entre eles, Agripina-a-Antiga, mulher de Germânico. Nessa vasta propriedade edificou Calígula um circo e Nero, por herança da sua tia Domícia, por ele mandada assassinar, construiu o que viria a ser conhecido como "os jardins de Nero". E é aí que, em 64 d.C. ele ordena o morticínio dos cristãos que acusara de autores do incêndio de Roma. E é aí que, também na mesma altura, talvez lendariamente, foi crucificado São Pedro, cujo corpo ficou enterrado perto do circo. Em finais do século V, São Símaco levanta no local uma modesta habitação que servia de estância de descanso para os papas que, então, viviam em Latrão. Depois da saída dos pontífices de Avinhão (cerca do século XII), o Vaticano começou a transformar-se no que é hoje. Assim, a origem de uma palavra carismática do catolicismo inscreve-se na mitologia pagã."
(in "Dicionário da Origem das Palavras", Orlando Neves, Editorial Notícias)