3.31.2005

"Rússia! Rússia! Das admiráveis e distantes paragens onde me encontro, daqui te contemplo, terra rude e inóspita: tudo em ti é pobre, nenhuma maravilha artística se junta às da natureza para alegrar ou assombrar os olhos. ( ... ) A solidão na uniformidade é tudo quanto ofereces."
Almas Mortas, Nikolai Gogol

Carpe diem

To His Coy Mistress
Had we but world enough, and time,
This coyness, Lady, were no crime
We would sit down and think which way
To walk and pass our long love's day.
Thou by the Indian Ganges' side
Shouldst rubies find: I by the tide
Of Humber would complain. I would
Love you ten years before the Flood,
And you should, if you please, refuse
Till the conversion of the Jews.
My vegetable love should grow
Vaster than empires, and more slow;
An hundred years should go to praise
Thine eyes and on thy forehead gaze;
Two hundred to adore each breast,
But thirty thousand to the rest;
An age at least to every part,
And the last age should show your heart.
For, Lady, you deserve this state,
Nor would I love at lower rate.

But at my back I always hear
Time's wingèd chariot hurrying near;
And yonder all before us lie
Deserts of vast eternity.
Thy beauty shall no more be found,
Nor, in thy marble vault, shall sound
My echoing song: then worms shall try
That long preserved virginity,
And your quaint honour turn to dust,
And into ashes all my lust:
The grave's a fine and private place,
But none, I think, do there embrace.

Now therefore, while the youthful hue
Sits on thy skin like morning dew,
And while thy willing soul transpires
At every pore with instant fires,
Now let us sport us while we may,
And now, like amorous birds of prey,
Rather at once our time devour
Than languish in his slow-chapt power.
Let us roll all our strength and all
Our sweetness up into one ball,
And tear our pleasures with rough strife
Thorough the iron gates of life:
Thus, though we cannot make our sun
Stand still, yet we will make him run.
Andrew Marvell


Stour Valley and Dedham Village 1814 (John Constable)

3.30.2005

Meu Sonho Familiar
Tenho este sonho: existe uma mulher
Que eu não conheço e o seu carinho estende
Sobre os meus males todos, que me quer
Como eu a quero, enfim, que me compreende.

Nem um pesar, nem uma dor sequer
Sofro sem que ela o sinta: ela me entende
E a grande dor que a minha fronte pende
Com seu pranto, ela faz amortecer...

É ela morena ou loura? Eu mesmo ignoro.
Seu nome? É tão querido como o nome
Das pessoas amadas que morreram.

Olhos de estátua que um pesar consome!
Tem sua voz o timbre almo e sonoro
Das vozes caras que se emudeceram.
Paul Verlaine


Procesión de flagelantes o Procesión de disciplinantes 1812-1819 (Francisco Goya)


Vincent van Gogh (1853-1890) Pintor holandês:
“Como director do asilo de Saint-Rémy, certifico e assino que van Gogh (Vincent), 36 anos de idade, nascido na Holanda e domiciliado actualmente em Arles, tendo sido tratado no hospital daquela cidade, apresenta mania aguda e alucinações visuais e auditivas que o levaram à automutilação, cortando a orelha.
Actualmente parece recuperado, mas ele refere não apresentar coragem e força para a vida independente e, voluntariamente, solicita a admissão nesta instituição. Como resultado da exposição acima, acredito que o Sr. van Gogh apresenta crises epilépticas infrequentes sendo aconselhável que permaneça em observação prolongada neste estabelecimento (Dr. Peyron, 9 de maio de 1889)”.

"Neste momento de crise, espero que me seja perdoado não falar hoje mais extensamente à Câmara. Confio em que os meus amigos, colegas e antigos colegas que são afectados pela reconstrução política se mostrem indulgentes para com a falta de cerimonial com que foi necessário actuar. Direi à Câmara o mesmo, que disse aos que entraram para este Governo: «Só tenho para oferecer sangue, sofrimento, lágrimas e suor». Temos perante nós uma dura provação. Temos perante nós muitos e longos meses de luta e sofrimento.
Perguntam-me qual é a nossa política? Dir-lhes-ei; fazer a guerra no mar, na terra e no ar, com todo o nosso poder e com todas as forças que Deus possa dar-nos; fazer guerra a uma monstruosa tirania, que não tem precedente no sombrio e lamentável catálogo dos crimes humanos. -; essa a nossa política.
Perguntam-me qual é o nosso objectivo? Posso responder com uma só palavra: Vitória – vitória a todo o custo, vitória a despeito de todo o terror, vitória por mais longo e difícil que possa ser o caminho que a ela nos conduz; porque sem a vitória não sobreviveremos. "
Discurso na câmara dos comuns do parlamento britânico, a 13 de Maio de 1940; Winston Churchill

3.28.2005

"Às vezes tinha pena de ter ficado solteira. Às vezes, a paz morna da meia-idade, com os seus expedientes automáticos para proteger a mente e o corpo de feridas, parecia-lhe, comparada com a trovoada e as flores lívidas despontando em Canterbury, inferior. Ela conseguia imaginar algo de diferente, algo de semelhante aos raios, algo mais intenso. Ela conseguia imaginar uma sensação física. ela conseguia imaginar ou...
E, estranhamente, pois nunca o vira antes, os seus sentidos, aqueles tentáculos antes arrebatados e retraídos, deixavam agora de enviar mensagens, permaneciam agora quiescentes, como se ela e Mr. Serle se conhecessem tão bem, estivessem, de facto, tão próximo um do outro que se deixavam apenas flutuar ao longo da corrente.
De todas as coisas, nada é tão estranho quanto as relações humanas, pensou ela, por causa das suas mudanças, da sua extraordinária irracionalidade. "
A festa de Mrs. Dalloway, Virginia Woolf

3.24.2005


Pietà 1576-82 (Paolo Veronese)

The Rainy Day
The day is cold, and dark, and dreary
It rains, and the wind is never weary;
The vine still clings to the mouldering wall,
But at every gust the dead leaves fall,
And the day is dark and dreary.

My life is cold, and dark, and dreary;
It rains, and the wind is never weary;
My thoughts still cling to the mouldering Past,
But the hopes of youth fall thick in the blast,
And the days are dark and dreary.

Be still, sad heart! and cease repining;
Behind the clouds is the sun still shining;
Thy fate is the common fate of all,
Into each life some rain must fall,
Some days must be dark and dreary.
Henry Wadsworth Longfellow

Existem dias para nos lembrar de coisas que acontecem no passado. Continuamente, quase que desde sempre, são os dias que deviamos sentir, diferentes a todos os outros dias, estes obrigam-nos a amar, compelem-nos a lutar e a celebrar. São dias que passam por mim como um momento...apenas mais um. Quem dirige as nossas emoções? Quem permite que eu chore num dia e num outro me alegre esquecido de tudo o que lembrei?

3.23.2005


Cafe Terrace at Night 1888 (Vincent Van Gogh)

Quem morre?
Morre lentamente
quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca
Não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente
quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente
quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco
e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções,
justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos,
corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente
quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida,
fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente
quem não viaja,
quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente
quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente,
quem passa os dias queixando-se da sua má sorte
ou da chuva incessante.
Morre lentamente,
quem abandona um projecto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior
que o simples fato de respirar. Somente a perseverança fará com que conquistemos
um estágio esplêndido de felicidade.
Pablo Neruda

3.22.2005


An Apostle with Folded Hands 1618-20 (Anthony van Dyck)

Para quê tanta preocupação em viver e fazer coisas mais ou menos em segredo? Medo dos próprios sentimentos, das opções que tomamos, do caminho que seguimos, medo de assumir situações que não queremos que façam parte de nós, medo de falhar? Não posso falar pelos outros (e por situações que aconteceram no passado) mas por mim, e do que eu vivi. Nas situações em que o fiz, fui sempre de pé atrás, nunca encaixei bem a necessidade de tanto encobrimento...Nestes aspectos sou um pouco ingénuo, talvez. Ou por outra, gosto de saltos no abismo...E digo logo a toda a gente tudo o que planeio, mesmo que mais tarde não se concretize, mesmo que depois me venha a afectar.

3.21.2005

Poema de um funcionário cansado
A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita

estreita em cada passo
as casas engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só num quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só

Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
Porque não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Porque me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço?

Soletro velhas palavras generosas
Flor rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música

São palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo um noite só comprida
num quarto só
António Ramos Rosa


Madonna 1894-95 (Edvard Munch)

3.20.2005

1933 - o campo de concentração de Dachau é construído



Fotos Actuais / Dachau - Alemanha / Memorial Site

Night over Birkenau
Night again. Again the grim sky closes
circling like a vulture over the dead silence.
Like a crouching beast over the camp
the moon sets, pale as a corpse.

And like a shield abandoned in battle,
blue Orion- lost among the stars.
The transports growl in darkness
and the eyes of the crematorium blaze.

It's steamy, stifling. Sleep is a stone.
My breath rattles in my throat.
This lead foot crushing my chest
is the silence of three million dead.

Night, night without end. No dawn comes.
My eyes are poisoned from sleep.
Like God's judgement on the corpse of the earth,
fog descends over Birkenau.
(Tadeusz Borowski - prisioneiro em Birkenau, Auschwitz e Dachau)

Equinócio de Março (ou seja, começa a Primavera)



Equinócio da Primavera / O Movimento do Sol

Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.

Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

Alberto Caeiro

LIDO


1984 (Nineteen Eighty-Four); George Orwell - Especial George Orwell / O Big Brother de Orwell / 1984 - George Orwell / George Orwell / George Orwell e o mundo de 2084 / Why I write / Newspeak Dictionary

Uma autêntica loucura a sociedade imaginada neste livro. Oprimir, limitar, matar, todos os verbos negativos são uso do poder. E limitar a resistência não é suficiente...É preciso exterminá-la. É daqui o termo Big Brother. Um controlo feito por meios visuais, por meio do telecrã, um ecrã que está por todo o lado, nas casas, nas ruas, e que é só isso, um ecrã, que para além de dar a ver, também vê, e fala. E assim tudo o que se faz é controlado. E chega inclusivé a ser paranóico, pois a mera suspeita de que se esteja a pensar em fazer algo errado é alvo de perseguição. E também um controle pela imposição de uma nova linguagem, que eliminaria todos os significados que não interessam ao Partido. Não haveria palavras que descrevessem igualdade, liberdade, comunhão, etc. Creio que esta ficção projectada na realidade falharia eventualmente. É que o Homem não é passível de ser formatado, mesmo que toda a sociedade o seja, creio eu. Não é uma máquina, e a tentativa de limitar os sentimentos, por intermédio da pressão psicológica e da supressão dos pensamentos (das próprias palavras que os descrevem) seria sempre temporária. Há uma falha neste projecto...é que o homem é naturalmente imperfeito, e para a teoria funcionar, todos os Homens seriam numa dada altura a perfeição absoluta (nos termos da ortodoxia deste Partido).

3.19.2005

Dia de S.José (dia dos pais)



Catholic Forum / Saints and Angels

Num meio-dia de fim de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.

Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.

Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu tudo era falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas -
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque nem era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E que nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça! (...)

Alberto Caeiro


A Minha Dor

A minha Dor é um convento ideal
Cheio de claustros, sombras, arcarias,
Aonde a pedra em convulsões sombrias
Tem linhas dum requinte escultural.

Os sinos têm dobres de agonias
Ao gemer, comovidos, o seu mal...
E todos têm sons de funeral
Ao bater horas, no correr dos dias...

A minha Dor é um convento.Há lírios
Dum roxo macerado de martírios,
Tão belos como nunca os viu alguém!

Nesse triste convento aonde eu moro,
Noites e dias rezo e grito e choro,
E ninguém ouve...ninguém vê...ninguém...

(Florbela Espanca)

VISTO


O Segredo dos Punhais Voadores - Sítio Oficial / Imdb / Crítica (i) / Crítica (ii) / Oscar

É mais um conto de fadas, numa terra longínqua, passada há muito, muito tempo do que uma reconstituição histórica. E assim somos transportados para um mundo onde tudo é excesso: os dramas, as lutas, as cores...Sem dúvida que é um filme sobre o amor, e também que é muito belo, em que existe sempre uma comunhão entre o que se passa e onde se passa, neste caso originando imagens magníficas de lutas no meio da natureza, com a cor a transbordar para fora do ecrã. Tem alguns momentos conseguidos em termos de emoção, mas o facto de se colocar tão distante de nós (por tentar ser tão perfeito em tudo, nas lutas, na beleza) não permite uma identificação com as situações, que nos faria apreciar melhor esses momentos. Porque são quase deuses, quase imortais, num drama quase que perfeito.

3.16.2005

VISTO


Old Boy - Sítio Oficial / Imdb / Trailer / Fantasporto / Crítica / Cannes

Ultraviolento. Chocante. Perturbador. Mas também hilariante. Sedutor. E porque não, ridículo. Há certas cenas que, embora encaixando no tema, na trama, no centro do filme, não lembrariam ao diabo. Comer um polvo vivo, sem cortes e efeitos de câmara é realmente de homem. Coreano, claro está. A vingança é o mote deste filme. Do primeiro ao último instante, vemos um homem motivado para se vingar. E a história vai nos mantendo presos ao suspense de encontrar a razão para terem feito a este homem tudo o que lhe fizeram. Chegado ao fim, ficamos com a impressão de que estivemos em contacto com uma coisa...extraterrestre. A sério...nenhum filme que tenha visto sequer se aproxima deste...esqueçam tudo o que já viram. Pensem em qualquer coisa que um filme não possa ter: este tem. Claro que não será bem assim...mas é a ideia com que se fica. Filme a ver, portanto.

Egoísmo

Tenho muito egoísmo dentro de mim. Nunca me fez mossa, não era um problema, nem sequer moral. O mundo é egoísta. Quase toda a gente, mesmo que não diga, mesmo que não queira, mesmo que esteja convencido que não, procura algo em si que é natural. Nada mais egoísta que a natureza. O facto que me fez ver que o egoísmo é um sentimento a erradicar foi o próprio egoísmo. Porquê ser egoísta? Porque quero estar bem, ser feliz, e essas coisas todas que nos fazem viver. Mas ao ser egoísta, vamos ser atacados pelos flancos, dado que o egoísmo é sempre contra alguém. E este alguém normalmente reagirá (dado ter instintos de egoísmo natural), provocando conflitos que se resolverão da pior forma. Não quero estar bem e outros estarem mal. Não quero ser mais forte que alguém e devido a isso fazer com que viva pior. Possa assim eu fazer mais não só por mim, mas por todos os outros.

3.10.2005

Lido


Horas Más (La Mala Hora); Gabriel García Márquez - Autor / Amazon

Não temos neste livro nem sequer um cheiro do melhor García Marquéz, na minha opinião Cem Anos de Solidão e O Amor nos Tempos de Cólera. Mesmo assim nota-se a sua marca numa história de silêncios. è uma povoação triste, onde nada de bom parece acontecer, onde se sente a miséria, onde todas as pessoas vivem para viver, apenas, tentando safar-se. E de repente todos os podres destes companheiros de vila vão aparecendo num pasquim, anónimo, colocado nas madrugadas num sítio público, como denúncia. A questão é: valerá a pena lutar para que as pessoas mudem? Ou a própria solução poderá vir a corromper ainda mais a situação?

3.05.2005

Visto


Million Dollar Baby: Sítio Oficial / Imdb / Trailer / Crítica

Não é só por um óscar ganho que se deve ir ver um filme. E se este não os tivesse ganho, seria sempre um filme a ver. Por várias razões aliás. Primeiro gostaria de falar de equívocos: a história é aparentemente simples, mas de facto, não é. É um filme aparentemente banal, sem nenhum golpe de asa de um grande cinema. Mas é uma espécie de grito mudo. Estamos sempre a contemplar um grande cinema, mas este não está constatemente a indicar-nos que o é. É..humilde. E por isso muitas pessoas o vão ver e não percebem. Creio que estão demasiado habituadas a que se lhes apresente tudo de mão beijada, e precisam de sentir desde o primeiro momento, que está lá tudo o que procuram. E o que procuram está mesmo lá. E por isso é um filme a ver. Porque é uma história de afectos, e não de batalhas ganhas ou perdidas. Porque na vida, nunca se pode dizer que se venceu nem que se perdeu. E assim os combates no boxe poderiam ser substitídos por qualquer coisa na vida que implique uma luta; a vida é um somatório de várias dessas batalhas. Penso que o mais importante que tiro deste filme, é que se temos a certeza do caminho a percorrer, há que lutar, há que tentar caminhá-lo até ao fim...independentemente do que acontecer...

3.02.2005

Hoje, é amor que sinto em mim

"(...)
Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como, e dói não sei porquê." (Camões)

3.01.2005


Ah que saudades!...(Verão, porque me abandonaste?)

Declaração de culpado

É,a sério!...Quero ter irresponsabilidades e cometer erros à vontade. Acordar e não me levantar, ser preguiçoso o dia todo. Trabalhar só quando me apetece e não quando tem de ser. Não suportar manias nos outros, impor as minhas ao mundo, acreditar que o futuro não resolve as desavenças, que o passado é ainda pior do que o que me lembro, e também que toda a gente é egoísta...Quero agir apenas para meu próprio interesse, não acreditar nem na própria sombra. Quero passar os dias sem recordações, quero existir sem nenhuma atitude....ser hipócrita porque sim, ser cínico para provar que sou melhor, e maquiavélico para distinguir o que realmente me importa. Ainda assim...confissões sob tortura não são válidas...